Adeus ao Papa Francisco: O mundo se despede do pontífice que deu voz aos humildes

Histórico e revolucionário, Jorge Mario Bergoglio morre aos 88 anos e encerra um dos papados mais marcantes da história moderna da Igreja Católica

O Vaticano confirmou, nesta segunda-feira (21), a morte de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, aos 88 anos. O primeiro pontífice latino-americano da história faleceu após anos enfrentando problemas de saúde.

Seu corpo será velado na Basílica de São Pedro, em Roma, e ficará exposto para visitação e oração dos fiéis.

O funeral ocorrerá com missa campal na Praça de São Pedro, encerrando o ciclo de um líder que transformou a forma como o mundo via a Igreja Católica.

Francisco havia antecipado seus próprios desejos para o adeus.

Em abril de 2024, revelou que “tudo estava pronto” para sua sepultura e ordenou mudanças nos rituais fúnebres dos papas, optando por uma cerimônia mais simples e menos solene.

Determinou que seu corpo fosse mantido dentro do caixão, rompendo com a tradição do uso do catafalco — plataforma em que os papas anteriores eram expostos.

Pediu também para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, distanciando-se da prática de sepultamento na Basílica de São Pedro, onde estão os restos mortais de 91 pontífices.

Um pontífice que sentiu a dor do corpo — e do mundo

A saúde de Francisco vinha se deteriorando desde 2022.

Naquele ano, surgiu pela primeira vez em público usando cadeira de rodas, após relatar dores intensas no joelho. “Tenho um ligamento rompido”, disse, explicando que faria infiltrações. Desde então, passou a aparecer com frequência sendo empurrado por auxiliares.

Em novembro de 2023, cancelou sua participação na COP28, nos Emirados Árabes, por conta de uma gripe e inflamação pulmonar.

Em janeiro de 2024, deixou um discurso incompleto por causa de uma bronquite, condição que se agravou nos meses seguintes. Em fevereiro de 2025, voltou a ser internado após uma cirurgia considerada “complexa” pelo Vaticano.

Um papa de origens simples, mas de ideais profundos

Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio teve uma trajetória marcada pela fé e pela dedicação ao povo.

Formado em química, ingressou na Companhia de Jesus (Ordem dos Jesuítas) em 1958 e, mais tarde, doutorou-se em Teologia na Alemanha. Foi ordenado sacerdote em 1969 e, em 2001, tornou-se cardeal, nomeado por João Paulo II.

Em 13 de março de 2013, foi eleito o 266º papa da Igreja Católica.

Ao se apresentar ao mundo, vestia batina branca, sem adornos. Com um gesto simples, pediu orações ao povo. “Parece que meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo”, disse.

E assim o mundo conheceu Francisco — nome escolhido em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo da humildade, da pobreza e da reforma espiritual.



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Reformador e próximo dos esquecidos

Inspirado pelo santo medieval, Francisco sonhava com uma Igreja mais próxima dos sofredores.

Abandonou os aposentos do Palácio Apostólico e passou a viver na Casa Santa Marta, residência modesta dentro do Vaticano. Ali, traçou sua missão: reformar por dentro a instituição milenar.

Criou o Conselho de Cardeais (C9), reformulou leis canônicas, promoveu a transparência financeira do Vaticano e abriu espaço para leigos e mulheres em cargos de decisão.

Além disso, reforçou o combate a abusos e insistiu que até cardeais e bispos deveriam ser julgados igualmente.

Foto: Divulgação

Entre resistência e acolhimento

A atuação de Francisco dividiu a Igreja. Suas declarações e decisões progressistas foram recebidas com entusiasmo por muitos, mas também com forte resistência de alas ultraconservadoras.

Entre as medidas que mais provocaram reação estão a autorização para bênçãos a casais homoafetivos e o reconhecimento de transexuais como filhos de Deus.

Em resposta a críticas, Francisco defendia uma Igreja que acolhe, não que julga. Para ele, mais do que uma instituição, a fé deveria ser uma ponte entre as pessoas.

“Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, afirmou, poucos dias após ser eleito.

Voz serena em tempos sombrios

Durante a pandemia de covid-19, Francisco se tornou um símbolo de esperança.

A imagem do papa caminhando sozinho sob chuva na Praça de São Pedro, em 2020, marcou corações e mentes em todo o mundo.

Ali, ele rezou por uma humanidade “frágil, desorientada, mas chamada a remar junta”.

Na encíclica Fratelli Tutti, lançada no mesmo ano, convocou todas as nações e religiões a promoverem causas comuns — como os direitos humanos, a paz e a preservação do planeta — com base na “amizade social”, conceito que ele considerava uma forma de amor.

Um legado que não se apaga

Francisco foi um papa que rompeu protocolos, desfez tradições e humanizou o papado.

Era visto tanto como um reformador quanto como um símbolo de resistência moral num mundo em crise. Seu legado é marcado pela tentativa constante de unir fé e compaixão, Igreja e povo, palavras e ações.

Enquanto seu corpo repousa, sua mensagem segue viva: amar, acolher, servir — sem julgamento, com humildade.

O mundo se despede do papa dos humildes, mas sua história permanece gravada não apenas nos livros, mas nas vidas que tocou.

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